Acoustic Live, Paulo Ricardo (2005)
Paulo Ricardo é o PFL do rock nacional. Sempre indo com a onda, virando de casaca para faturar um qualquer. Não, não. Paulo Ricardo é o João Kleber do rock nacional. Quando se acha que o sujeito chegou ao fundo do poço, ele dá um jeito de se enlamear mais ainda. Se o ex-líder do RPM (ou atual? Ainda existe?) morresse no instante em que estas linhas são digitadas, ler-se-ia em seu obituário: "O homem que já foi o popstar mais famoso do Brasil deixa à posteridade um disco de covers-do-cover". Sim, pois em Acoustic Live a nova aspiração do moço é virar Emmerson Nogueira, atingindo o que no vernáculo shakespeariano poderia se chamar de *the lowest ebb ever*. Ele suga duas tendências mercadológicas (nunca artísticas) que já deram o que tinham de dar: a moda dos unpluggeds e a mania de covers de sucessos gringos em versões semi-musak. Para escolher seu repertório, PR deve ter passado umas horas escutando rádios FMs de consultório dentário, saindo-se com uma renca de ecléticas obviedades. Tem rock! Tem r'n'b! Tem baladas! Tem...reggae?! Tem… Jack Johnson?!?!? Tem... James Taylor?!?!??!?!?!? Tem Corcovado, de Tom Jobim, com letra em inglês, a qual o Paulo Ricardo só deve ter ouvido na abertura daquela novela da Globo. Agora, indispensável mesmo é o DVD, que se encerra com PR, suado, peito cabeludo arfante qual um Fábio Jr., sambando (sentado!) ao cantar Kiss, do Prince. Seu defeito, Paulo Ricardo, é não saber parar.
Admirável Chip Novo, Pitty (2003)
No meio do caminho entre a troglodice de Chorão e a alma sensível de Marcelo Camelo, há Pitty. A baiana é o mínimo denominador do rock brasileiro nos anos 2000, e isso não é um elogio. Montada em uma filosofia (sic) que reempacota todos os clichês possíveis de "atitude" rrrrrrroquenrrrrrrrrrrollllll - e uma suspeitíssima amizade com a mídia - Pitty tornou-se, para o mal e para o mal, a cara pública do rock nacional. E seu credo, seu Novo Testamento é Admirável Chip Novo. "Admirável" mesmo é como a jovem diz ser influenciada por Aldous Huxley (e escreve letras crivadas de lugares-comuns) e bandas como Mars Volta e Muse (mas faz o mais genérico dos rocks pseudo-pesados). O som entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas junto às letras e ao papo furado que ela deita nas entrevistas, tudo forma um conjunto constrangedor e até nocivo para a molecada. "Veja tudo como se não houvesse amanhã". "O homem é o lobo do homem". "Não deixe nada pra depois". "Quem não tem teto de vidro atire a primeira pedra". "Eu possuo muitas coisas e nada disso me possui". "O importante é ser você". Um tosco Lair Ribeiro para adolescentes revoltados, embalado nas doces facilidades do jabá e da MTV. Seu rock estéril e sua rebeldia sem objetivo só se "justificam", perversamente, pela total convicção com que vêm ao mundo. O mais grave é que ela realmente acredita naquilo que canta. Em resumo: "Rebellion (Lies)".
Os Invisíveis, Ultraje a Rigor (2002)
Maior desperdício de talento já registrado em acetato, e não é de Roger que estamos falando. Um dos melhores bateras dessa terra e um baixista carismático e de carreira considerável jogados numa tentativa de surf music clichê alternada com gracejos "irreverentes". Para resumir: há uma faixa boa, Miss Simpatia, mas essa foi assinada por Gabriel Thomaz - que por sinal começou a escrever muita bobagem depois. Seria a falta de criatividade de Roger contagiosa? O resto inclui aulas de como se fazer um não-ska (I'm Sorry), pop de retardado (Me Dá um Olá, que nem na trilha de Malhação emplacou) e pastiche da paródia de subcópia (Todo Mundo Gosta de Mim). Bacalhau (bateria) e Mingau (baixo) devem ser muito camaradas do Roger, pois nem a necessidade de pagar as contas justificaria eles se meterem numa embrulhada como essa, que acusa logo na primeira canção: "esse disco está uma merda / desculpe, mas tenho que sobreviver". Pelo menos, é uma obra sincera.
80, Biquíni Cavadão (2001)
Primeiro foi Paulo Ricardo, com o mediano Rock Popular Brasileiro em 1996. Depois tivemos, quase que simultaneamente, os ótimos Isso é Amor, do Ira!, O Barulho dos Inocentes, do Inocentes, e o fraquinho As 10 Mais, do Titãs, que ganhou destaque nas listas pessoais de piores do rock nacional. Porém, foi nessa onda de discos de covers que o Biquíni Cavadão resolveu enfiar as mãos nos anos 80 e sair de lá com 13 versões. O resultado é frustrante. O Biquíni pouco acerta em 80, cujo capa poderia até sugerir que eles são tão bons moços que ousam ultrapassar o limite de velocidade. Ao todo, a banda consegue descaracterizar boas canções como Toda Forma de Poder, dos Engenheiros do Hawaii, Juvenília, do RPM e Camila, Camila, do Nenhum de Nós. Chegam a incomodar em Quem Me Olha Só (um bluezaço deArnaldo Antunes e Frejat na versão original do Barão Vermelho) e Hoje do Camisa de Vênus. E nem mesmo a participação da Penélope Érika Martins salva a regravação da boa Educação Sentimental II, do Kid Abelha (aquela que no original "empresta" toda introdução de baixo de London Calling dos ingleses do Clash). Seja mantendo os arranjos originais, seja tentando novos arranjos, o resultado fica aquém do esperado. Das 13 faixas, apenas Armadilha, dos candangos da Finis Africae, convence. E não precisavam ter regravado Me Chama (até João Gilberto gravou). O ponto mais baixo acontece quando a banda decide jogar a voz de Renato Russo a frente na regravação de Múmias (do próprio Biquíni), tornando o resultado leviano. Não bastasse o artifício, o rap piegas de Suave, do grupo Jigaboo, no meio da canção, ainda diz: "Aproveitando nossa liberdade de expressão, Renato Russo, Suave e o Biquíni Cavadão". Pára tudo, pára tudo, pára tudo.
Puro Êxtase, Barão Vermelho (1997)
Barão Vermelho e modernidade nunca se deram bem. E isso não é algo totalmente reprovável, uma vez que a banda de Frejat e companhia sempre admitiu e chamou pra si um ar retrô intencional, calcando seu som na repetição de clichês melódicos do rock tradicional stoniano ou de qualquer outra banda dos 70's. Portanto foi um pequeno rebuliço quando anunciaram que gravariam um disco com influências de música eletrônica, o tal techno, que, de estilo musical dos 90, serviu para muita gente decadente ou sem criatividade se revestir de "muderno". Era simples, não precisava ser bom ou tocar qualquer coisa. O Barão chamou o DJ Memê, que dera um upgrade em Lulu Santos três anos antes. O resultado é caótico, pois o disco evidentemente não é techno. Apenas mais um disco do Barão Vermelho, só que sem as guitarras de Frejat e Fernando Magalhães, substituidas em sua maioria, por blips e toins sem sentido. O mais irritante do disco é justamente esse meio do caminho estético. Ele não cumpre o que promete - mudar a cara das músicas da banda - e não admite que deveria ter ficado no velho som de sempre. O mais estranho disso tudo é que o disco gerou dois grandes hits para a banda, talvez seus últimos, Puro Êxtase e a balada Por Você. Claro que a banda deixou de lado o formato deste disco e passou a executar as músicas em versões condizentes com sua velha fórmula, sem que o público notasse grandes diferenças. Enfim, Puro Êxtase, o disco, é um trabalho daqueles que toda banda se arrepende de ter feito e prefere desconversar sobre suas consequências. A maior delas, a idéia de Frejat gravar um disco solo e uma crise criativa que inseriu o Barão na desconfortável situação de banda que vive de passado. Não que não fosse já assim antes.
Equilíbrio Distante, Renato Russo (1995)
Em 1995, Renato Russo, tentando manter longe o baixo astral da AIDS, resolveu ir atrás das origens do seu lado Manfredini, e gravar um disco só com músicas italianas - um ano antes lançara The Stonewall Celebration Concert, em inglês, um tanto irregular, mas com algumas coisas boas. Para isso, foi até a Itália pesquisar composições para gravar. Voltou com um repertório pronto; só que de músicas românticas... como se um gringo resolvesse gravar música brasileira e escolhesse coisas de José Augusto e Fábio Jr. Os carros-chefes de Equilíbrio Distante, por exemplo, eram dois hits da breguíssima Laura Pausini (em voga por aqui na época): Strani Amori e La Solitudine. Todas as músicas do disco seguem a constrangedora linha "diabéticos, mantenham distância". Há também uma versão - em italiano - esquecível de Como Uma Onda, de Lulu Santos. Como não bastasse a pieguice das músicas, Equilíbrio Distante peca ainda pela presença do abjeto tecladista Carlos Trilha, arranjador medíocre, fã de sons "atmosféricos" e, pior, das cordas tocadas no teclado. Se for para colocar cordas, que seja com músicos de verdade, ora. Para nossa sorte, Renato recuperou a moral no ano seguinte, com o belíssimo A Tempestade ou o Livro dos Dias (e morreu pouco depois). Porém, Laura Pausini não pode, Laura Pausini não dá, mio amico.
Música Calma Para Pessoas Nervosas - Ira! (1993)
No ano de 93, o Ira! entrou numa espiral de brigas internas e fracasso contínuo, onde uma coisa levava a outra, e assim continuamente. Com os quatro integrantes de saco cheio e loucos para acabar com tudo, a banda lançou esse lastimável disco para cumprir um contrato, comprovando que o fim da burocracia é sempre o mesmo: merda. Sendo fã da banda e estando cheio de boa vontade, dá para livrar a cara da sub-Kinks Campos, Praias e Paixões. Com muita magnanimidade, dá para dizer que She Smiled Sweetly (cover dos Stones) é passável e que o riff de Arrastão não faria feio num disco do Golpe de Estado. Ou seja, isso é o mais do elogio que o disco permite. Guitarras no piloto automático, execuções frouxas, letras constrangedoras e coisas francamente patéticas como Fado De Minh'Alma e a versão musicada de um velho texto de Raul Seixas, Pai Nosso da Terra. Nem o encarte colaborou: não bastando a capa horrível, ainda trazia a inolvidável grafia "nenhuma vida descança (sic!) em paz/ O homem é esperto mas a morte é mais". Título da última faixa: U.T.I., provavelmente o único lugar onde encontrar alguém que ouça esse disco.
Titanomaquia, Titãs (1993)
A incursão dos Titãs pelo rock pesado, ensaiada em Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991), ganhou tons definitivos quando a banda convidou Jack Endino, produtor de Bleach (Nirvana e sua herança nefasta...) para trabalhar em Titanomaquia (1993). Até hoje não deu para entender se o disco é uma piada proposital ou uma obra à frente do seu tempo. O que dizer de pérolas como Felizes São os Peixes (cuja letra consiste em "tanto faz/é igual/felizes são os peixes"), Nem Sempre Se Pode Ser Deus ("nem sempre se pode ser Deus/por isso que estou gritando"), e o hit Será Que é Isso Que eu Necessito ("Não sei o que você quer/nem do que você gosta/não sei qual é o problema/qual é o problema seu bosta")? Na parte musical, arremedos de Sepultura circa Beneath The Remains (Estados Alterados da Mente), um Soundgarden hardcore (Agonizando) e Alice In Chains (A Verdadeira Mary Poppins, com os auto-explicativos versos "eu sei que estou fedendo/eu sei que estou apodrecendo"). Só se salva a boa Hereditário - única cantada por Nando Reis, redimindo-se do "amor, eu quero te ver cagar" de Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. Aliás, justiça seja feita: a produção de Jack Endino é excelente. Poucas vezes guitarras soaram tão potentes em um álbum nacional. Só que uma produção sozinha não salva um disco. O próprio Endino devia saber disso, já que - reza a lenda - ao ser convidado para produzir o disco seguinte da banda, Domingo, Jack respondeu que aceitaria. Desde que eles parassem com esse negócio de fazer rock pesado. A capa original é essa em destaque, embora na época o disco tenha sido vendido embalado em um saco plástico preto... de lixo.
Big Bang, Paralamas Do Sucesso (1989)
Este é o pior disco já feito pelos Paralamas, apesar de contar com duas boas músicas, Pólvora e Perplexo. E é seu pior disco por um motivo muito simples. Ele encerra um ciclo, inaugurado em Selvagem?, de 1986. Ali os PDS conseguiram uma alquimia poderosa entre o som enguitarrado, letras relevantes e uma pitada de Brasil Grande, aquela coisa de misturar o "que é nosso" com o "que vem de fora". Depois de um pequeno intervalo para tocar no Festival de Montreux de 1987 e gravar outro disco na mesma trilha tropical de Selvagem?, Bora Bora, de 1988, a fórmula esgotou. E foi Big Bang que levou a pior nessa seqüência. Ainda há ecos de axé music pelo disco, fruto da época em que coisas como a Lambada estavam na ordem do dia. Portanto, temos uma cover de Jubiabá, de Gerônimo, um dos expoentes da axé music inicial (se é que se pode falar isso). As próprias composições da banda caem num poço sem fim, exemplo de Nebolosa do Amor, Esqueça O Que Disseram Sobre O Amor e da insuportável Lanterna Dos Afogados, que se tornou o maior hit do disco. Todas com muitos metais caribenhos, como se você estivesse numa celebração torta de musica caliente e sem alma. Depois desse trabalho a banda se perderia mais ainda em Os Grãos (1991), disco em que abraçou a MPB dos anos 70, mas que serviu para zerar o caminho até então, abrindo as portas para uma bela retomada em Severino (1994). Este Big Bang, infelizmente, não passou de uma pequena bombinha de São João. Fraco, pouco inspirado, desorientado e vitimado por péssimas influências.
Você Não Precisa Entender, Capital Inicial (1988)
Após uma estréia cheia de hits clássicos (Música Urbana, Psicopata, Fátima) e um segundo álbum feito às pressas, mas que ainda rendeu um indiscutível sucesso (a excelente Independência), o Capital chegou ao terceiro disco completamente perdido. Afundados em drogas, a banda deixou o controle do álbum para Bozo Barreti, que havia produzido a estréia e sido incorporado à banda em Independência (1987). Com as mãos no volante, o tecladista enfia o álbum no primeiro poste que vê. Nem Marcelo Sussekind, que assina a produção, consegue salvar o Capital Inicial do fiasco. Você Não Precisa Entender é o pior disco do grupo, quiça, um dos piores do rock brasileiro. Esbanjando arranjos tecnofunk, o álbum só tem uns vinte segundos interessantes, em A Portas Fechadas quando, sob uma cama de teclados, Dinho canta: "Meu último desejo / Seu beijo / Seu beijo / Meu último desejo / À luz da lua / Testemunha de um amor / Que com o vento flutua / Sopra-nos a brisa / Lua nua". De resto, uma baladinha normal (Fogo), um funk de branco azedo com lema punk (Pedra na Mão) e muitas bobagens (Blecaute, Movimento, Limite). Não bastasse estragar o repertório original, a banda joga no lixo uma das melhores letras de Renato Russo: Ficção Científica permite que Russo viaje em citações malucas: "Hoje à noite / Flash Gordon / Vai tentar ser / Barbarella / Para ver se aprisiona / O Albert Einstein". No final, um perfeito retrato a lá Star Wars: "Revolução!! / em selvas tropicais / Raio laser mata índios / Descoberta o novo mundo envelheceu". É, não deu para entender mesmo.
Scream & Yell
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